“Os estudantes angolanos estão em diáspora mas estão de olhos postos no país”. Foi com esta frase que o Embaixador Angolano em Portugal se dirigiu aos estudantes no último Encontro Internacional de Estudantes Angolanos. Aos presentes em Portugal, em Luanda e àqueles que estão espalhados pelo mundo.
“Para Angola já e em força”, “Os estudantes angolanos estão em diáspora mas estão de olhos postos no país”. Frases de incentivo e dicas para que cada estudante possa encarar de forma diferente a vida longe dos seus pais, do seu contexto e da sua terra. Foram algumas das frases proferidas pelos oradores que participaram na conferência do Encontro Internacional de Estudantes Angolanos que decorreu no último fim-de-semana nas Caldas Rainhas, em Portugal.
Edvaldo Fonseca, é uma das faces dos estudantes angolanos em Portugal. Neste momento está na segunda licenciatura, de Relações Internacionais, depois de se ter licenciado em Recursos Humanos. Encabeça a direcção da AEA desde 2008 e está a arrumar tudo para voltar a Angola: “Eu estou num processo de transição, tenho um pé cá e outro lá. Estou a inserir-me no mercado angolano mas também há a possibilidade de empreender no meu próprio país.”
Desde 2002 que Angola se modificou muito. Agora são os estrangeiros a irem investir neste pedaço rico de África: “força da imigração para Angola está a fazer com que o país se desenvolva.”Neste sentido, a paz angolana foi o primeiro passo para a reconstrução angolana. Actualmente, o desafio que está sob a mesa não se cinge somente ao aumento de obras públicas mas expande-se à mudança de atitude.
Na opinião do Reitor da Universidade Lusíada de Lisboa, esse papel cabe aos estudantes, àqueles que farão parte dos quadros angolanos. A frase “Para Angola já e em força” é de António Salazar mas Mário de Andrade reutilizou-se enquanto fazia um alerta aos estudantes que estavam na diáspora.
Ao recordar os tempos de estudante, o Dr. Mário de Andrade contou com algum à vontade os seus tempos de outrora: “Antigamente havia o pensamento de que os estudantes internamente não estavam a estudar: “Vocês que estão cá fora, é melhor acelerarem o passo, senão, não vão ficar globalizados”
Os estudantes deparam-se, num cenário de crise mundial, com questões válidas: Que futuro? Onde investir? Serviço público ou privado? Ficar no país que o acolheu ou voltar e ajudar a reerguer o seu? O deputado Luther Rescova responde a algumas dessas perguntas e é peremptório ao responder que “há mais vida além de Luanda” e que em todas as regiões do país faltam quadros qualificados mas não só superiores.
José Barbosa é uma angola que rumou até às terras de Sua Majestade para estudar na Universidade de Cambridge: “fui para Londres inicialmente para mas como muitos angolanos na diáspora acabei por ficar 11 anos. Hoje em dia trabalho com a Global Careers Company – uma consultaria de recrutamento especializada no mercado angolano.
"Fui directamente de Angola para Londres. Fiz a formação em Economia, fiz o mestrado em Economia e fui para Londres por escolha da minha mãe. Ela quis que nós tivéssemos a melhor educação possível". Estudar fora é, na opinião de José Barbosa, sempre uma mais-valia já que se aprende o que há de melhor na diáspora para levar para o mercado angolano que é o que eu tenho feito”, afirma ao SAPO com um sorriso nos lábios.
"Por viver em Londres, o meu objectivo era voltar. A Global Careers Company organizar o Careers in Africa e foi ai que eu conheci essa empresa; eles deram-me a possibilidade de ficar em Londres mas a trabalhar o mercado angolano, que é o ideal neste momento."
Embora já esteja fora do seu país hà 11 anos, José acha que ainda tem muito que aprender na diáspora. “Quando estiver a um nível satisfatório poder voltar a Angola como um profissional já experiente que tem muito a dar. O objectivo é continuar sempre a estudar”, conclui José Barbosa. Durante a conferência dada no Encontro Internacional de Estudantes Angolanos, a Dr. Ângela Bragança falou exactamente desse facto “Nunca parem de estudar”, aconselhou.
Junto dos estudantes, houve um murmúrio mas algumas cabeças iam confirmando a ideia da oradora. “Tenho a certeza que vou voltar a estudar porque com a minha experiência que tenho aprendido na minha carreira vou descobrindo outras áreas em que me quero especializar – relações públicas, comunicação e imagem. A aprendizagem nunca pára.”
Um dos vice-presidentes da AEA, Marco Prado, fala dos problemas sociais com que alguns estudantes se deparam. Dificuldades essas, que sempre existiram em contextos de quem é emigrante, mas que ganham relevância quando existe uma associação de estudantes que ampara essas situações – “ter o pagamento das propinas em atraso é um problema muito frequente (…) quando o dólar desvaloriza as pessoas vêem dificuldades em pagar as propinas porque muitos deles pagam em dólares.”
Um dado adquirido em todos é a vontade em voltar a Angola: “Eu agora já só penso em voltar a Angola”, conta com entusiasmo Marco Prado: “O meu primeiro passo em Luanda é arranjar um trabalho (…) o meu desejo é voltar mas eu confesso que sou das primeiras pessoas a dizer para não voltarem sem terem um trabalho”
Em relação à inserção no mercado de trabalho angolano, o Reitor da Universidade Lusíada, Dr. Mário Pinto de Andrade aconselha os jovens quadros a informarem-se juntos dos serviços públicos. Quanto à opinião do deputado Dr. Luther Rescova as tecnologias da informação são uma ferramenta que se pode tornar num verdadeiro alicerce para fixar os estudantes no mercado de trabalho. Além disso, deixa no ar o motivo válido para que os estudantes que estão na diáspora tenham vontade de voltar: o patriotismo.
@Eliana Silva